Acordei de madrugada quando nada disto seria de prever, logo hoje num dia comemorativo para mim.
Estávamos no final de um evento cultural qualquer, ela arrumava objetos e eu observava, decidi participar e ajudar, assim como outros o faziam. De um momento para o outro éramos apenas nós os dois naquele corredor longo e frio. Mesmo sem qualquer diálogo, ela conduzia o carrinho porta-paletes e eu ajudava. Depois uma caixa, outra e algumas manobras, éramos uma dupla muda mas com grande eficácia.
Os trabalhos estavam a terminar e ela carregava com as mãos alguns objetos de pequena dimensão e eu aproveitava a oportunidade tão rara nos últimos anos de a admirar. Decidi por fim ir embora sem qualquer abordagem ou frase trocada, quando para surpresa minha ela falou comigo e pediu para me acompanhar.
Caminhávamos na rua, sem dizer nada, Sofia começou a tentar explicar coisas do passado, porque foi assim entre nós e porque nunca aconteceu nada do que poderia ter acontecido.
Agora somos maduros e poderemos falar de tudo o que nos apetecer sem tabus. Fiquei a perceber que afinal alguma coisa, positiva, tinha mexido com ela e não fossem as circunstâncias poder ter sido muito diferente no início da nossa estória.
Quando o diálogo se desenvolvia com grande agrado entre nós acordei, um pouco nervoso, não tanto como das outras vezes em que o coração ameaçava saltar para fora do peito, mas foi mais um registo de que não deveria(mos) ter desistido de tentar uma aproximação diferente na altura certa. Só não percebi o absurdo do porta-paletes, mas há tanta coisa que não entendo nas nossas memórias que é só mais uma.
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